O engajamento da comunidade, da escola e do município

Neste capítulo, vamos analisar as maneiras de envolver os diferentes segmentos e mantê-los compromissados durante todas as etapas de um processo de mobilização contínuo e permanente. Para ter uma rede engajada e garantir um arranjo territorial eficiente, a mobilização deve ser incorporada no dia a dia dos gestores, dos educadores e das comunidades.

Processo de mobilização inicia-se nas escolas

Para que a Educação atraia o interesse de toda a comunidade e seja o foco das discussões, é importante que cada escola mostre o seu trabalho, como ele é feito e a importância dele para o futuro de cada um dos alunos e da sociedade em geral. Por isso, é ali que se inicia todo o processo de mobilização. Nessa instância, muita coisa pode ser feita para envolver as pessoas mais interessadas numa Educação de qualidade: os alunos, os pais e os professores. Vejamos aqui as iniciativas que a escola tem à disposição para iniciar ou manter a mobilização:

| Reunião de pais
Rotina na agenda de qualquer unidade de ensino, as reuniões de pais podem ser aproveitadas para que os professores mostrem aos familiares o que se ensina e como. Essa é uma das maneiras mais eficientes de engajar pais, mães e demais adultos responsáveis pelos alunos no processo de aprendizagem, tornando-os mais próximos das iniciativas da escola.


| Conselho de classe
Essa é outra ação rotineira na vida dos educadores e, às vezes, mal aproveitada. No conselho de classe, professores, coordenadores pedagógicos e diretores escolares têm uma chance ímpar de se reunir e discutir os problemas de aprendizagem de uma turma e de cada aluno. É uma instância com potencial mobilizador, pois é nesse espaço que surgem as demandas de ensino individuais e coletivas, embrião da formação em serviço.


| Conselho escolar
Constituído por representantes de pais ou responsáveis, estudantes, professores, demais funcionários, membros da comunidade local e diretor, o conselho escolar tem função fiscal, consultiva, deliberativa e mobilizadora. É uma excelente oportunidade para abrir espaço a fim de que todos acompanhem a gestão da escola e a aprendizagem dos alunos, decidindo em que áreas os recursos deverão ser empregados para garantir o alcance das metas.


| Seminário para acompanhamento dos resultados
Essa é uma das ações que as escolas das redes municipais do Território Chapada Diamantina promovem e costuma ser inspiradora para outros gestores. A cada três meses, as escolas das redes municipais atendidas pelo Icep realizam um encontro para avaliar os resultados dos alunos e confrontá-los com as expectativas de aprendizagem. Desses seminários participam alunos, coordenadores pedagógicos, professores e diretores. O fato de a equipe pedagógica fazer o levantamento dessas informações e os educadores terem contato com esses dados já gera ações dentro das salas de aula, desde a reorganização dos espaços até a montagem de novos grupos produtivos para o trabalho em classe. Também podem ser revistas as oficinas de apoio aos estudantes e para os professores planejarem novas formas de oferecer o reforço necessário para que todos aprendam. Esses seminários são, ao mesmo tempo, iniciativas mobilizadoras, formativas e de acompanhamento.


| Elaboração do PPP
O projeto político-pedagógico (PPP) é o documento mais importante da escola e deve ser atualizado anualmente, de preferência com a participação dos diversos atores do fazer pedagógico. É ele que traz o perfil da comunidade atendida, as metas de aprendizagem e os caminhos para chegar a elas, os projetos desenvolvidos e os resultados. Construí-lo e revisá-lo junto com a comunidade é uma ação de mobilização das mais importantes.

Trilhando esses passos e tendo a participação da comunidade, é certo que o projeto sonhado pelas escolas se manterá vivo e gerará a apropriação dos processos pelos participantes. Haverá a percepção de que o resultado é produto dos esforços individuais e coletivo, e não da imposição de agentes externos. Além disso, a participação nesses encontros ajuda a desenvolver uma postura investigativa e propositiva, indispensável à construção da prática educativa do dia a dia e, futuramente, à formação dos territórios colaborativos.

A mobilização da rede garante a política de formação

Como já deu para perceber, uma mobilização pela Educação tem, em cada escola, o seu embrião, começando nas instâncias de participação listadas anteriormente e tomando o curso rumo a uma iniciativa mais abrangente. Para que essa mobilização ultrapasse o alcance de uma só unidade e se propague para toda a rede e para um conjunto de municípios, outras ações podem ser colocadas em prática. O exemplo de mobilização de rede que daremos aqui está longe de ser único e definitivo, mas foi construído com base na experiência do Território Chapada Diamantina, que há alguns anos trabalha dessa maneira e tem obtido êxito. Portanto, acreditamos tratar-se de um modelo que pode ser replicado em outros territórios.
As iniciativas de mobilização no âmbito municipal começam na escola e vão aumentando a abrangência até chegar à Campanha pela Educação, uma série de iniciativas cuja culminância acontece a cada quatro anos – não por coincidência, nos anos de eleição municipal. É o chamado Dia E, que faz com que todos os candidatos ao Executivo e ao Legislativo municipal se comprometam com os programas de sucesso já em andamento e com a busca de resultados cada vez melhores na Educação. Porém o Dia E, que será descrito em detalhes mais adiante, é apenas um dos eventos da Campanha pela Educação. Completa, ela envolve muitas ações que se sucedem ou ocorrem simultaneamente. Acompanhe:


| Planejamento da campanha
O início do planejamento da campanha em âmbito municipal acontece com o agendamento de uma reunião entre a equipe técnica da Secretaria de Educação do município parceiro e a diretoria do Icep. Nesse momento, são apresentadas as diretrizes de trabalho e escolhidas as pessoas que ficarão responsáveis pela campanha. Num segundo encontro, são convidados também os coordenadores pedagógicos e os diretores escolares para que sejam compartilhados com eles os planos elaborados. Durante todo o processo, o papel do Icep é participar ativamente do planejamento da campanha, enviar os convites e os comunicados oficiais às prefeituras, disponibilizar materiais de comunicação, moderar os debates e acompanhar as ações realizadas pelos municípios, dando o suporte necessário. Equipes técnicas, coordenadores pedagógicos, diretores escolares e professores ficam responsáveis por esse processo e pela implementação das iniciativas, mobilizando a comunidade e mantendo a equipe do Icep informada sobre o desenrolar das ações.


| Fóruns escolares
Coordenadores pedagógicos, diretores escolares, professores e comunidade realizam encontros em cada escola para discutir as demandas da Educação local. A intenção é responder a uma pergunta norteadora: o que nós, profissionais da escola, professores, diretores, coordenadores e pais desejamos no âmbito da Educação pública para nossas crianças? As respostas tiradas nos fóruns escolares devem compor um documento que servirá de base para os debates no Fórum de Educação e, posteriormente, para o Dia E.


| Organização das propostas
Cabe à equipe técnica da Secretaria de Educação, juntamente com os diretores escolares e coordenadores pedagógicos, reunir as propostas tiradas nas escolas e organizar um documento único, contemplando as cinco dimensões do Plano de Ações Articuladas (PAR) do Ministério da Educação:

• Gestão educacional.

• Formação de professores e profissionais de serviço e apoio escolar.

• Prática pedagógica e avaliação.

• Infraestrutura física e recursos pedagógicos.

• Alimentação escolar.


| Fórum dos estudantes
Durante a Campanha pela Educação, é fundamental assegurar o espaço para a participação e as reivindicações dos alunos. Isso pode ser viabilizado em atividades na sala de aula, no momento considerado propício pelo professor.


| Dia E
De quatro em quatro anos, sempre em época de eleições municipais, a Campanha pela Educação chega ao espaço público. Toda a comunidade é convidada para dar opinião e conhecer as sugestões discutidas nos minifóruns escolares. Para esse dia, são convidados os candidatos aos cargos de prefeito e vereador para assistir aos debates. Eles não têm direito à palavra, somente podem escutar as reivindicações dos educadores e da comunidade. Após a definição da proposta coletiva, o documento final passa por uma revisão, é impresso e oferecido para os candidatos ao Executivo e ao Legislativo para que o assinem, como sinal de compromisso de defesa e execução das metas se forem eleitos.


| Fórum Municipal de Educação
Acontece a cada dois anos. Quando ocorre no meio do mandato do prefeito, tem como objetivo fazer um balanço das ações empreendidas para concretizar as propostas tiradas no Dia E, assim como listar o que ainda é preciso encaminhar para que se dê andamento às sugestões que não saíram do papel. Quando acontece no fim do mandato, é utilizado para fazer um inventário das conquistas da Educação no município nos quatro anos que se passaram. Para ambos os fóruns, são convidados o prefeito e os vereadores. É nesse momento que são eleitos os membros da Comissão de Acompanhamento e Avaliação dos Fóruns de Educação (Caafe), importante instância de monitoramento da campanha, que seguirá a implantação das metas no mandato seguinte.


| Monitoramento
Os membros da Caafe começam a atuação selecionando dez propostas prioritárias definidas no Dia E, juntamente com o secretário de Educação. Duas ou três reuniões com o prefeito são realizadas anualmente para o acompanhamento das prioridades e a regulação das iniciativas que ainda precisam ser encaminhadas. Os membros da Caafe vão duas ou três vezes ao ano na Câmara dos Vereadores para relatar o andamento das propostas prioritárias. O monitoramento envolve ainda a participação de todas as escolas e dos pais: cada escola faz a revisão das sugestões levadas ao Dia E que podem ser efetivadas no âmbito da direção e as que necessitam do apoio da comunidade. Os itens relacionados às salas de aulas e às escolas precisam ser assumidos pelas comunidades e colocadas em prática.


| Campanha de Transição Suprapartidária
Logo após o resultado das eleições, todos os prefeitos eleitos dos municípios que compõem um território são convidados a participar de um seminário, cujo objetivo é colaborar para a promoção de estratégias que assegurem a continuidade da política educacional apesar da mudança no quadro da gestão municipal. No seminário devem estar presentes inclusive os que foram reeleitos. São organizados memoriais por município, conforme orientação do Ministério da Educação (MEC), contendo o histórico de cada rede: estrutura da secretaria, projetos, ações, avanços, resultados, demandas e dificuldades. As orientações para a organização desses memoriais podem ser encontradas na internet em diversos formatos, inclusive para baixar no computador, bastando digitar “memorial da gestão da educação municipal” em sites de busca.

Fórum de Educação e mobilização por metas em Iraquara

O processo de elaboração do documento para os candidatos à Prefeitura Municipal em Iraquara (BA) começa com uma grande mobilização em cada escola: os diretores reúnem a equipe escolar e a comunidade, levantam as necessidades e propostas da escola e depois organizam tudo em um documento-modelo disponibilizado pela Secretaria de Educação. Segundo Simone Neves Pinto, secretária de Educação do município em 2012, e Flávia Alves Souza Silva, diretora pedagógica, “todas as escolas elegem alguns resultados para ser melhorados e apresentam as suas necessidades. Em Iraquara, os professores são convidados para participar dos minifóruns escolares e demais eventos em que são debatidos os problemas da Educação, assim como pais, alunos, igreja e outros representantes de grupos sociais. O documento a ser apresentado no Dia E aos candidatos tem a participação de todos. Esse tipo de mobilização – por metas e premiação das escolas que otimizam seu potencial em busca de resultados – repercute diretamente no trabalho dos professores, coordenadores e diretores pedagógicos, que se sentem motivados a alcançar os objetivos que eles mesmos traçaram.